Fed subiu os juros pela primeira vez desde 2018. E agora?
A expectativa era grande e vinha crescendo faz tempo – como a gente já tinha mostrado pra você aqui na Sproutfi. Mas aconteceu até mais cedo do que muitos analistas esperavam.
O Banco Central dos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed), subiu a taxa básica de juros do país em 0,25 ponto porcentual. Agora, os juros americanos estão num intervalo entre 0,25% e 0,50% ao ano.
Foi a primeira alta de juros nos EUA desde 2018 – e ela marca o fim da política monetária do Fed voltada ao enfrentamento da pandemia, que segurou juros quase zerados.
E não para por aí: o Fed sinalizou novos aumentos nos próximos meses. E indicou que a taxa básica de juros deve ficar entre 1,75% e 2% ao ano até o fim de 2022.
Por que o Fed subiu os juros?
O principal motivo dessa alta nos juros nos Estados Unidos é a disparada da inflação. Em fevereiro, beirou os 8% no acumulado em 12 meses, a maior alta em 40 anos.
Fonte: The New York Times
Por que a inflação nos EUA subiu?
O governo americano lançou mão de um programa de socorro trilionário para combater os estragos da pandemia. Com isso, a economia dos EUA se recuperou rapidamente. O desemprego caiu, os salários subiram e o consumo aumentou. E aí, vale a máxima da oferta e da demanda: mais demanda, preços mais altos.
Mas a pressão sobre os preços não veio só pelo lado da demanda. A instabilidade na oferta de alguns produtos, por causa da pandemia, foi deixando muita coisa mais cara. Um exemplo disso está no setor de energia, com o preço dos combustíveis aumentando devido aos gargalos no abastecimento de petróleo – situação que ficou ainda mais crítica agora, com a guerra na Ucrânia, já que a Rússia é um grande produtor e exportador de petróleo.
Por que a inflação alta é um problema nos EUA?
A inflação alta vem sendo uma pedra no sapato para a Casa Branca porque preços mais altos pesam sobre o poder de compra, atrapalham um mercado de trabalho forte. Em outras palavras: não adianta os salários subirem e o mercado reaquecer se a inflação passa a corroer a renda do trabalhador. Com preços nas alturas, os consumidores acabam ficando pessimistas sobre o futuro. E esse movimento acaba por atravancar os efeitos positivos de uma economia fortalecida de novo recentemente. Por isso, o Fed resolveu agir.
Entenda as semelhanças e as diferenças entre Banco Central e Federal Reserve.
Como o ciclo de alta de juros impacta o mercado e a sua vida?
Vamos explicar agora como esse novo ciclo de alta da taxa básica de juros nos Estados Unidos mexe com o mercado financeiro e também com seus investimentos.
Juros mais altos aumentam a rentabilidade dos investimentos em renda fixa, que são mais conservadores. Como consequência, as aplicações de risco maior, como o mercado de renda variável e os investimentos na economia real, ficam menos atraentes.
Muitos investidores desistem das ações de empresas, principalmente as consideradas mais arriscadas – e acabam migrando o seu dinheiro investido para a renda fixa.
Há também um movimento em uma escala mais global, de migração dos investimentos para os Estados Unidos. Isso porque os Treasury Bonds – títulos de renda fixa do governo americano, análogos ao nosso Tesouro Direto – são considerados os mais seguros do mundo, com risco de calote praticamente inexistente, segundo a avaliação do mercado.
Quando o Fed sobe os juros, esses papéis rendem mais, atraindo um grande fluxo de dólar para os Estados Unidos. Com uma opção segura pagando mais, os investidores ficam mais seletivos.
Isso é uma má notícia para as economias emergentes, como a do Brasil, já que a tendência é a migração do capital investido aqui para um local considerado mais seguro – nesse caso, os títulos do Tesouro americano.
Como a alta dos juros nos EUA afeta o preço do dólar?
A alta dos juros americanos também afeta o câmbio. Isso porque essa migração dos investimentos de economias emergentes para os Estados Unidos deixa a moeda americana mais escassa por aqui. Com a fuga de dólares, a tendência é de que o real se desvalorize, revertendo um movimento que tem sido observado neste ano.
Ontem, (21 de março), o dólar fechou abaixo dos R$ 5 – o que não acontecia desde junho do ano passado. Segundo a plataforma Economatica, o real foi a moeda que mais se valorizou ante o dólar em 2022 (12,36%), quase o dobro do segundo lugar, o rand sul-africano (6,66%). Isso ocorreu principalmente por causa da alta do preço das commodities, já que o Brasil é um grande exportador.
Porém, conforme o Fed for subindo os juros, o dólar deve parar de cair por aqui… e pelo contrário: pode voltar a subir. A bolsa brasileira também deve ter pressões de baixa. Ainda mais porque este é um ano eleitoral, o que deve gerar muita volatilidade nos próximos meses.
Por isso, analistas reforçam que é interessante diversificar e incluir na carteira ativos atrelados à economia americana e, principalmente, ao dólar – ainda mais num ano de incertezas como este.