Empresas nos EUA com operações similares à BRF
BRF ($BRFS) é a sigla para “Brasil Foods”, um conglomerado do ramo alimentício que surgiu em 2009, a partir da incorporação da Sadia pela Perdigão - foi, inclusive, uma novela financeira que movimentou a indústria e o mercado brasileiro. Relembramos um pouco dessa história abaixo.
O drama da Sadia
Em 2008, a Sadia sangrou mais de US$ 2,5 bilhões ao perder o controle sobre suas operações de câmbio. Àquela época, era considerada a maior do Brasil no setor de alimentos. Além disso, durante anos, a especulação com derivativos foi responsável por boa parte dos lucros da companhia, que tinha uma corretora de valores sob seu guarda-chuva.
Mas o bom momento não durou para sempre. A Sadia acabou se expondo demais ao mercado de derivativos, apostando na contínua baixa do dólar por causa da bolha imobiliária nos Estados Unidos. Porém, entre agosto e outubro de 2008, o moeda disparou repentinamente, em meio à retração das fontes de crédito internacional, contrariando as apostas da Sadia.
E ao fim daquele ano, a Sadia registrou o primeiro prejuízo anual nos seus então 64 anos de existência. Precisou pedir socorro ao governo Lula, torcendo por aportes do BNDES. Mas a estratégia financeira equivocada acabou deixando a Sadia passível de ser incorporada por outra empresa.
Um plot twist - ou dois, três…
Como dissemos, a história toda foi uma novela, marcada por reviravoltas.
Com a crise da Sadia, a Perdigão, que era a concorrente número 1, passou a ser a candidata número 1 para abocanhar a tradicional logomarca de salsicha. E isso por iniciativa do próprio BNDES - o governo brasileiro via a chance de criar uma gigante nacional (e global) no setor de alimentos.
E foi uma virada de jogo. Antes da falência da Sadia, a Perdigão tinha entrado em recuperação judicial, em 1994. E foi rejeitada pela Sadia, que não se interessou em incorporar a principal concorrente. Aí, a Perdigão acabou sendo comprada por nove fundos de pensão.
E o jogo virou de novo: mais de uma década depois, e dois anos antes da tragédia dos derivativos, a Sadia tentou abocanhar a Perdigão, comprando ações a torto e a direito. Mas foi barrada pelos acionistas majoritários.
Outro ponto fatídico nesse roteiro está relacionado ao câmbio: como exportadora, a Sadia teria se favorecido com a alta do dólar, não fosse a sua atuação no mercado financeiro, através da corretora, como citamos acima.
O final feliz (para alguns)
Quando virou BRF, a Perdigão tinha se reerguido após dificuldades financeiras na década de 1990. Mudou de logomarca e incorporou empresas, como a Batavo.
Após a fusão com a Sadia, tornou-se a terceira maior empresa exportadora do Brasil, e acabou vendendo o setor inteiro de produtos lácteos (inclusive a Batavo) por causa de lucros operacionais abaixo da média geral da companhia.
Durante a pandemia, a BRF comemorou um efeito colateral do isolamento social: as pessoas passaram a comer mais em casa. A companhia se apressou para aumentar o portfólio de congelados, lançou linha de frangos orgânicos, e alinhou tudo a novas estratégias de marketing nas redes sociais. E colheu os frutos já em 2020.
Em 2021, mais de uma década depois da novela da Sadia, a Brasil Foods foi eleita pela Forbes a melhor empresa para se trabalhar no Brasil, com boa governança e alta transparência - critérios ESG cada vez mais valorizados no mercado global.
Além disso, no pano de fundo, analistas chamam a atenção para o recorde histórico no consumo per capita de aves no Brasil em 2021.
Novo olhar com guerra na Ucrânia e mercados em crise
Este ano, a BRF está entre as companhias mais afetadas pelos efeitos colaterais da guerra na Ucrânia. A empresa sofre com a alta nos preços dos grãos e dos combustíveis. No fim de março, em meio às dificuldades para recuperar margem lucro, a maior acionista da BRF anunciou que vai indicar um novo conselho de administração. Trata-se da Marfrig ($MRFG3), outra gigante brasileira que concorre com a BRF no ramo de alimentos, e que hoje detém 33,25% das ações da BRF.
Tem fusão à vista? Pode ser que sim. Mas, no momento, o importante é saber que o controle da BRF pela Marfrig é muito bem visto pelas investidores da Brasil Foods, que sentem falta de orientação uníssona para a companhia.
Como vimos, a BRF passou a ser controlada por diversos fundos de pensão ainda nos tempos de Perdigão. Assim, a Marfrig chega para dar as cartas.
Atualmente, a BRF tem valor de mercado de R$ 13 bilhões, e as ações da empresa têm performado, em geral, acima do índice Ibovespa.
Se você já investe na BRF, ou se interessa por companhias desse setor, conheça agora algumas empresas dos Estados Unidos que têm propostas similares. Elas podem ser uma boa opção para quem quer diversificar os investimentos, sem deixar de investir no que já conhece.
Unilever ($UL)
A Unilever foi fundada em 1884, numa cidadezinha do interior da Inglaterra. Começou com uma ideia para revolucionar o mercado de sabão - isso mesmo. Em vez de vender o produto por peso, como de praxe, os irmãos Lever decidiram criar um sabão padronizado em peso e medidas, e vendê-lo em embalagem individual. Não precisamos nem mencionar que deu certo, né?
Hoje, a Unilever está entre as 100 maiores empresas do mundo, de acordo com ranking da Forbes (Forbes Global 2000). Tem um portfólio de mais de 400 marcas, e distribui em mais de 190 países.
O valor de mercado da Unilever está em mais de US$ 150 bilhões. Em 2021, a multinacional alcançou faturamento de US$ 57,8 bilhões em 2021.
Este ano, o mercado viu baixar o desempenho das ações da companhia em relação aos concorrentes, em meio a um tentativa frustrada da Unilever de incorporar uma concorrente. E os acionistas cobraram resultados.
Então, desde fevereiro, a empresa está em processo de reconquistar os investidores, reorganizando seus grupos de operações para cortar custos. A britânica teve o melhor desempenho das vendas em nove anos, mas os gastos frearam a lucratividade. Há quem defenda a separação da área de alimentos, que é menos lucrativa, em relação aos demais negócios da marca. A diretoria da empresa discorda.
Em fevereiro, a Unilever anunciou que vai recomprar até US$ 3,3 bilhões em ações até 2023, em um movimento para valorizar as cotas.
Tyson Foods, Inc. ($TSN)
A Tyson Foods nasceu durante a Grande Depressão americana, pós-1929. Hoje, é a maior processadora de carnes de frango, bovina e suína do mundo, incluindo produtos congelados e carnes selecionadas para uso industrial.
É a fornecedora oficial de frango das maiores redes de fast food norte-americanas, como KFC, Taco Bell, McDonald’s e Burger King. No mundo, a Tyson perde apenas para a brasileira JBS.
Em 2021, a gigante alimentícia anunciou sua entrada no mercado de proteínas plant-based (à base de vegetais), com uma linha de produtos veganos.
No primeiro trimestre do ano fiscal de 2022, a americana cresceu 140% em lucro líquido, em relação ao mesmo período do ano fiscal anterior. O resultado foi de US$ 1,121 bilhão. Já o lucro operacional ajustado da companhia cresceu 39,7%, na mesma comparação.
No balanço divulgado para o resultado, a companhia prevê um cenário de relativa estabilidade para a produção americana de proteínas nesse ano fiscal. Para expandir lucratividade, a Tyson Foods pôs em ação um programa para garantir economia de custos derivada de ganhos de produtividade. A meta, inicialmente, é economizar de US$ 300 milhões a US$ 400 milhões neste exercício, e chegar a US$ 1 bilhão em ganhos até 2024.
Hormel Foods ($HRL)
A Hormel Foods é outra empresa do setor de alimentos (carnes, principalmente) que nasceu pequenininha, a partir de um empréstimo de US$ 500, em 1891. Tornou-se uma das companhias mais confiáveis dos Estados Unidos em 2022, de acordo com ranking da revista Newsweek em parceria com alemã Statista, especializada em dados de mercado e consumidores.
É conhecida, principalmente, pela fabricação de carne enlatada (isso mesmo!) com a marca Spam - que se tornou sinônimo de mensagens de e-mail indesejadas, o lixo eletrônico que lota sua caixa de mensagens.
Há mais de 80 anos no mercado, a Spam voltou a bater recorde vendas em 2014 - depois de se tornar artigo de luxo na Coreia do Sul e em outros países asiáticos - e não parou mais. No Brasil, a Hormel é dona da marca Ceratti.
Surfando no maior clássico da empresa, mas também de olho nos novos mercados, a Hormel foi mais uma do setor de proteínas a lançar produtos à base de vegetais. Desde 2019, a marca Happy Little Plants comercializa hambúrgueres feitos de soja e outros snacks veganos.
A Hormel Foods tem lutado contra custos crescentes para manter a produtividade em alta. A empresa projeta crescimento de até 9% para as vendas líquidas no ano fiscal de 2022, chegando a US$ 12,5 bilhões no melhor dos cenários. Lucros por ação podem chegar até 2,03 dólares no período, segundo estimativas da empresa.