Vai ter carnaval?

Não só os foliões sedentos estão se fazendo essa pergunta. Grandes empresas também. Afinal, a data é estratégica para os resultados de alguns setores. Mas acima de tudo, todos estão cautelosos com a pandemia.
Carnaval

Todo o carnaval tem seu fim, já diz a música. É a hora em que bate aquela tristezinha por ter terminado - até mesmo pra quem não gosta de pular carnaval, mas curte o feriado pra descansar. Mas essa tristezinha é maior quando o carnaval não tem fim - por nem ter começado.

É o que vem acontecendo desde o início da pandemia. Por questões óbvias, as festas têm sido canceladas ou adiadas em todo o país. Este ano, a previsão é de que Rio de Janeiro e São Paulo, duas das capitais que têm as maiores programações de carnaval do país, façam o carnaval em abril.

Blocos de rua e desfiles de escola de samba movimentam nossos corações e a economia. Em 2020, as festas na capital paulista colocaram na rua cerca de R$ 3 bilhões, com 15 milhões de pessoas. E R$ 4 bilhões na cidade do Rio, com 10 milhões de pessoas - sendo 2,1 milhões de turistas, 23% deles vindos de fora do país.

Os números se referem ao último carnaval antes de a Covid-19 se disseminar pelo Brasil. O primeiro caso de coronavírus confirmado pelo Ministério da Saúde no país foi no meio do carnaval de 2020, no dia 26 de fevereiro - o caso foi de um homem de 61 anos em São Paulo, que deu entrada no Hospital Albert Einstein. Logo depois, no dia 11 de março, a OMS declarou pandemia.

Quase dois anos depois, seguem as medidas restritivas, agora em virtude da variante Ômicron. E empresas que gostam de carnaval estão preocupadas, primeiro, com a segurança sanitária. 

A Ambev ($ABEV), que já tinha fechado contrato de R$ 23 milhões em patrocínio para o carnaval da cidade de São Paulo, declarou, em nota: “somos apaixonados por carnaval, mas a saúde das pessoas deve vir sempre em primeiro lugar”. A Heineken disse, também em nota, que "todas as nossas decisões têm como premissa o cuidado com as pessoas”, e deve priorizar a presença em festas particulares. O setor de serviços também vai enxugar, e projeta receita 33,7% menor em relação ao carnaval pré-pandemia.

Ainda assim, há lugares que vão manter a programação. Vinte estados cancelaram o feriado. O governo de Pernambuco - estado que tem umas das maiores (e mais lindas!) festas de rua, principalmente em Olinda e no Recife - proibiu eventos entre 25 de fevereiro e 1º de março.

Carnaval de Olinda (PE). "Saudades do que a gente não viveu", né? Foto: Instagram @carnaval_de_olinda_oficial

Ao mesmo tempo, 11 capitais permitiram festas públicas este ano. E a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estima que a data movimente R$ 6,45 bilhões.

Empresas de bebidas estão entre as que mais lucram na nossa festa popular. Além disso, companhias aéreas também “fazem a festa” nesse período do ano - que serve como um respiro para o setor, impactado fortemente pela pandemia. Locação de veículos também está entre os serviços mais procurados no carnaval. Hotéis e plataformas de aluguel de imóveis, como Airbnb ($ABNB) são outros negócios na linha de frente nessa época do ano - inclusive atendendo clientes que fogem da folia pra aproveitar a folga em lugares tranquilos.

Como aponta levantamento do Nexo, o carnaval movimentou R$ 7,91 bilhões na economia brasileira em 2019. Outro dado impressionante foi reportado por 3.800 municípios em 2020: aumento de 20% na arrecadação no feriado de carnaval, em relação ao ano anterior, com geração de 25 mil empregos.

A festa é realmente gigante - no âmbito cultural, por toda a representatividade e apropriações que carrega, e no âmbito econômico, pelos números imbatíveis quando comparados aos de outras datas comemorativas, em setores como alimentação e bebidas, transporte e hospedagem. 

Mas tão grande quanto o lazer e os resultados financeiros que o carnaval proporciona, está sendo a atenção com a saúde pública. Inclusive porque nenhum governo ou marca querem estar atrelados a imprudências que contribuam com o agravamento da pandemia. Afinal, aprovação e valuation também dizem respeito à postura das lideranças e empresas no contexto em que estão inseridas. E os consumidores estão cada vez mais atentos a isso. O mercado financeiro e os investidores, por consequência, também.