Wing, da Alphabet, inaugura entrega por drone nos EUA

Empresa que pertence à dona da Google lança drones para entregar mais de 100 produtos, de medicamentos a sorvete.
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No meio da floresta, durante um passeio de bike, uma pessoa se machuca. Precisa de um curativo logo. Quem salva? Um drone. O kit de primeiros socorros atravessa os céus no robô voador. E é solto, das alturas, aos pés da ciclista.

Precisou de algo na trilha no meio da mata? O drone leva! Imagem: Wing/Reprodução

Em casa, o pai retira do forno um bolo que fez para o aniversário do filho. Mas... saiu preto. Bolo queimado acaba com a festa? Não. Novamente, um drone aparece pra salvar, e evita que o parabéns passe em branco. O robô traz cupcakes e fica tudo bem.

Se fosse um episódio de Black Mirror, as duas cenas descritas acima poderiam se chamar “Robôs, ao resgate”, né?

Mas essas cenas não são de nenhum seriado, não. São realidade mesmo.

Claro, os drones ainda não "empatizam" por conta própria. E não é deles a autonomia de vir ao socorro de humanos em apuros. Além disso, os locais de entrega ainda são limitados.

Mas muito já se evoluiu, como vimos esta semana, com o início do serviço de entrega por drone da Wing

Conheça a Wing

A Wing desenvolve tecnologia para drones de entrega de mercadorias. E acabou de lançar a maior operação de delivery por drone dos Estados Unidos.

A empresa começou como um projeto, em 2012, na Califórnia (EUA), dentro do X - o laboratório de experimentos ultratecnológicos e avançados da Google, também conhecido como Google X Lab, Google X ou "The Moonshot Factory".

Em 2018, o projeto Wing foi lançado como empresa, que se tornou uma subsidiária do conglomerado Alphabet ($GOOG) - também dono da Google. 

Nos Estados Unidos, a primeira entrega com drone da Wing foi em 2019, na pequena Christianburg, norte da Virgínia. Mas anos antes, a empresa já alçava voos intercontinentais, com testes na Austrália e nas terras frias da Finlândia.

Hoje, a Wing já comemora mais de 100 mil entregas via drone. Essa semana, então, celebrou mais um avanço: a inauguração do serviço em Dallas, no Texas, a nona maior metrópole dos Estados Unidos.

Na Austrália, as estatísticas da Wing são animadoras. Incluem a entrega de mais de 10 mil copos de café. E também o delivery de drone mais rápido até hoje, segundo a empresa: 2 minutos e 47 segundos - a tempo até de queimar a língua de um cliente desavisado.

Como funciona a entrega por drone da Wing

Os pedidos são feitos pelo app da Wing. Já estão disponíveis mais de cem produtos da farmácia Walgreens, e itens de uma rede local de sorveterias (será que derrete?). Outras duas empresas - uma de itens de saúde e outra de produtos veterinários - vão entrar no menu em breve.

Por enquanto, o serviço tem limitações de dias da semana. E os drones ainda não chegam a qualquer endereço. É “starting small” (começar pequeno), como antecipa a empresa no site. Mas a Wing já mostrou que o céu é o limite - e que pode alcançá-lo.

A Wing controla à distância o vai e vem de drones, diretamente da sede na Califórnia. Ainda em 2019, a companhia se tornou a primeira a obter o certificado da Agência Federal de Aviação (FAA) dos Estados Unidos para fazer remessas aéreas no país. Até então, operava comercialmente apenas na Austrália, onde começou a fazer os primeiros testes ainda em 2014.

Os drones da Wing cumprem as rotas de maneira autônoma, respeitando as restrições da FAA. Um piloto supervisiona até 15 voos simultâneos a partir de uma sala de controle. O papel desse funcionário é, essencialmente, monitorar as imagens das câmeras dos drones à procura de riscos inesperados - multifunção que pode reduzir o custo de uma entrega a menos de 1 dólar.

Entregar por drone e sustentabilidade

De acordo com um estudo do departamento de Transporte dos EUA, se os pilotos assumirem 10 voos de uma só vez, a entrega vai custar apenas 88 centavos de dólar, levando em conta cargas de até 1,5 kg. As "drone-deliveries" (entregas de drone) prometem ser a forma mais barata de entrega sustentável disponível no mercado.

Em 2020, a Deloitte comparou as entregas via drone com os serviços de delivery que usam bicicletas elétricas. A consultoria VVA, baseada em Bruxelas, tinha feito um estudo parecido no ano anterior, com um modelo que considerava o volume de pizzas da Domino’s entregue durante um ano em Londres. As duas modelagens concluíram que as entregas com drones custam menos da metade do serviço com e-bikes.

Paralelamente, emergem discussões sobre os custos ambientais ocultos relacionados ao mercado de drones, por causa do lítio das baterias e do fornecimento de energia para os data center, os centros de dados.

Para além da discussão ambiental, a cadeia produtiva da entrega por drones também vem sendo questionada. Os trabalhadores envolvidos, de empacotadores a pilotos, são pressionados a cumprir uma linha do tempo cada vez mais apertada, no ritmo dos drones que já são capazes de fazer entregas em menos de três minutos, como vimos acima, no caso da Wing.

Como em qualquer revolução, os prós e contras dos drones vão (e devem) ser dissecados à exaustão. Enquanto isso, o mercado segue crescendo, e deve atingir 41,3 bilhões de dólares em quatro anos, segundo as previsões da alemã Drone Industry Insights (Droneii), empresa especializada em pesquisas no setor.

A Droneii antecipa que o setor de serviços relacionados ao mercado de drones deve chegar a faturar mais de 32 bilhões de dólares em 2026.

Aqui no Brasil, a Anac concedeu, no fim de janeiro de 2020, a primeira autorização para delivery por drone, resultado da iniciativa liderada pelo iFood. Para um futuro próximo, ao que tudo indica, é o Brasil que deve puxar o crescimento desse mercado dentro da América do Sul. O mar está para peixe - e o céu, para drone.