O mundo dos investimentos tem vários índices de mercado, como índices de ações e índices de preços, que são usados como indicadores oficiais de desempenho e dos movimentos da economia.
Mas tem um índice que não é oficial e que, mesmo assim, consiste em uma referência interessante e usada mundialmente.
O índice que vamos mostrar neste artigo prova que as questões do mercado financeiro estão por toda parte e no nosso dia a dia - inclusive, num lanche! Nesse caso, um bem famoso: provavelmente, você saiba até a musiquinha dele de cor: "dois hambúrgueres, alface, queijo molho especial, cebola e picles num pão com gergelim. É o Big Mac!"
Sim, esse texto sobre mercado financeiro é baseado em Big Mac. Você vai saber o que o hambúrguer revela sobre a desigualdade pelo mundo e a força da moeda de um país.
O que é o Índice Big Mac?
O Índice Big Mac começou a ser medido pela revista britânica The Economist em 1986. É atualizado semestralmente, nos meses de janeiro e julho. E serve como um indicativo da Paridade dos Poderes de Compra (PPC).
O que é Paridade dos Poderes de Compra (PPC)?
A Paridade dos Poderes de Compra é um importante conceito econômico, medido por vários índices e várias entidades em todo o mundo.
Parece difícil de entender, mas é simples: o PPC avalia o quanto uma mesma quantia de dinheiro consegue comprar em diferentes lugares.
Big Mac e poder de compra
Agora, voltando ao hambúrguer do McDonald's. Se o Big Mac é o mesmo em qualquer parte do mundo, feito com os mesmos ingredientes (como mostra a musiquinha acima), ele deveria custar a mesma coisa, levando em conta só a taxa de câmbio, correto?
Ou seja, pela lógica, ao converter o preço de um Big Mac em euros para dólares, ou em reais para dólares, o hambúrguer deveria custar a mesma coisa.
Mas, sabemos, não é isso que acontece, por uma série de disparidades: o custo de vida e a inflação em cada país, preços de importação, impostos, entre outras.
Saiba mais: Por que a inflação está nas alturas?
Por que escolher o Big Mac pra avaliar a economia?
Primeiro - e simplesmente - pela presença do McDonald's em boa parte do mundo: quando Ray Kroc comprou a rede de restaurantes dos irmãos Richard e Maurice McDonald, imaginava escalar o negócio para 1.000 franquias nos Estados Unidos. Mas cresceu muito mais, e em 1967, expandiu para o mercado internacional, com as primeiras lojas no Canadá e em Porto Rico. Hoje, são mais de 38 mil lojas do McDonald's em mais de 120 países.
Outro motivo que transforma o Big Mac em um índice de mercado (ainda que não oficial, como pontuamos acima) é o fato de o hambúrguer ser homogêneo e comercializado da mesma maneira nos diferentes países de venda, permitindo, assim, a comparação.
Como é calculado o índice Big Mac?
Para comparar o poder de compra entre países, o índice da The Economist usa como base o preço médio do Big Mac nos Estados Unidos. O mesmo é feito para outros países do índice, incluindo o Brasil. Na última atualização, divulgada em janeiro, 56 países compunham o Índice Big Mac.
O Índice Big Mac se propõe a analisar o quão valorizada ou depreciada está a moeda de um país em relação ao dólar, por meio da taxa de câmbio do período. A equação é simples:
Se o hambúrguer custa, em dólares, mais do que nos EUA, a moeda daquele país está supervalorizada em relação ao dólar.
Se o hambúrguer custa, em dólares, menos do que nos EUA, a moeda daquele país esta subvalorizada em relação ao dólar.
O que o índice Big Mac diz sobre o Brasil?
Pra você entender de um jeito simples, trazemos o caso brasileiro, tomando como base a última versão do índice, divulgada em janeiro de 2022, com dados de dezembro de 2021:
Naquele mês, o Big Mac no Brasil custava 22,90 reais. Pela taxa de câmbio oficial do período - que estava em 5,31 reais por 1 dólar - o lanche brasileiro custaria, então, 4,31 dólares aqui no nosso país. Enquanto isso, nos Estados Unidos, na mesma data, um Big Mac custava 5,81 dólares. Portanto, em dólar, o Big Mac ficou mais barato no Brasil do que nos EUA.
Com isso, o Índice Big Mac mostra que o real está desvalorizado em relação ao dólar. E mais: mostra o quão desvalorizado está.
Vamos comparar os dois preços, cada um em sua moeda:
1 Big Mac = 5,81 dólares nos EUA
1 Big Mac = 22,90 reais no Brasil
Dividindo os valores, a razão de troca é 3,94. Ou seja, é como se cada dólar nos EUA fosse equivalente, em tese, a 3,94 reais aqui.
Mas, como vimos acima, essa não era a taxa de câmbio real no mês analisado (5,31 reais por 1 dólar, dez/2021).
Ao dividir essas duas taxas - a que vemos na prática (3,94), e a oficial (5,31) - temos que uma equivale a 74,2% da outra.
Ou seja: podemos concluir que o real está 25,8% desvalorizado em relação ao dólar na hora de adquirir esse produto.

O que esse cálculo significa?
A taxa de câmbio maior revela uma desvalorização da moeda brasileira em relação ao dólar.
Ao dividir essas duas paridades, podemos concluir que o real está 25,8% desvalorizado em relação ao dólar na hora de adquirir esse produto. Em resumo, o nosso poder de compra é menor.
Atualmente, só dois países têm moedas mais fortes do que o dólar segundo o Índice Big Mac: a Suíça, com valorização de 20,2% sobre o dólar, e a Noruega, com 10%.
Recentemente, o real se valorizou em relação ao dólar, e se usarmos o câmbio teórico de 3,94 reais do Índice Big Mac, o real está atualmente desvalorizado em 14,5% (04/04/2022).
Abaixo, os preços do Big Mac em dólar por país:

-