Da geladeira para a carteira

Água de coco e iogurte grego no cardápio de ações dos EUA.
Beverages

Se uma das principais dicas pra quem vai começar a investir é focar em produtos dos quais gosta, água de coco deve estar na lista de muita gente, né? E não só para os brasileiros. O turista pira com nossa água de coco fresquinha, docinha e barata (ainda mais com a cotação do dólar e do euro agora…).

Lady Gaga no Rio de Janeiro. Água de coco é praticamente um “ponto turístico” do Brasil, né?

Os Estados Unidos importaram essa paixão nacional brasileira. E o negócio de água de coco ficou grande por lá. A Vita Coco ($COCO) - que tem uma origem bem brasileira, como você vai ver a seguir - fez IPO em outubro deste ano. E já tem no seu histórico investidores célebres como Madonna, Demi Moore e Matthew McConaughey.

A Vita Coco detém 46% do mercado de água de coco nos EUA. Em 2020, registrou vendas líquidas de US$ 311 milhões. No primeiro semestre deste ano, elas chegaram a US$ 177 milhões, 15% a mais em relação ao mesmo período do ano passado.

Uma história romântica e lucrativa

A história da Vita Coco parece até um bom storytelling marqueteiro. Era inverno em Nova York, ano de 2003. Mike Kirban (que naquele momento nem fazia ideia, mas viria a ser o CEO da Vita Coco) e o amigo Ira Liran conheceram duas brasileiras em um bar. Liran se apaixonou por uma delas, largou tudo nos EUA e se mudou para o Brasil pra casar com ela. Kirban veio visitar o amigo e se impressionou com a quantidade de água de coco nos supermercados. Deu-se conta de que era uma prateleira inexistente nos Estados Unidos. E abriu a Vita Coco.

Acabou abrindo também os olhos de outros empreendedores. E até a Coca-Cola ($KO) entrou para o mercado de água de coco, com a Zico - que foi descontinuada em 2020, mas comprada de volta pelo fundador Mark Rampolla.

Água de coco com chocolate da Vita Coco - pelo jeito, importaram também a nossa mania de misturar coisas, né?

Com 18 anos de vida, a Vita Coco comemora o IPO com valor de mercado de US$ 832 milhões e a ambição de dominar o ramo de bebidas saudáveis. "Estamos superando a Covid e os consumidores estão famintos por saúde e bem-estar e nossas marcas são como a epítome do bem-estar (…) (Os produtos) são saudáveis, funcionais, à base de plantas. É isso que está ressoando com os consumidores”, declarou Kirban.

Outra empresa que embarca na tendência do "plant-based" e do IPO pra fomentar o negócio é a Chobani. A fabricante de iogurtes é líder do setor nos EUA: detém 43,5% do mercado de iogurte grego, e 20,2% na categoria iogurte. E também aposta na diversificação do negócio. Já lançou leite de aveia, café pronto para beber e bebidas probióticas à base de plantas. Como a Chobani propagandeia, são "alimentos deliciosos, naturais, nutritivos e acessíveis”.

Em novembro, listou-se para fazer IPO na Nasdaq, com uma expectativa de levantar US$ 100 milhões com a abertura de capital. Dinheiro que vai dar um fôlego no caixa da empresa, depois das perdas de US$ 58,7 milhões em 2020. Ainda assim, a receita foi de US$ 1,4 bilhão. E este ano, até setembro, a Chobani somou US$ 1,2 bilhões em vendas líquidas, com prejuízo líquido de US$ 24 milhões. As ações da Chobani serão negociadas com o código “CHO”.

A história da Chobani também parece uma boa jogada de marketing. O fundador e CEO Hamdi Ulukaya emigrou da Turquia para os Estados Unidos em 1994. Comprou uma fábrica de iogurte abandonada e ali desenvolveu as suas receitas. Lançou o iogurte grego Chobani em 2005. Hoje, a marca está em 95 mil pontos de venda na América do Norte e também exporta pra Austrália.

CEO pop e empresa engajada em causas sociais

A Chobani emprega imigrantes de centros de refugiados. E já anunciou que vai distribuir 10% do capital aos funcionários quando fizer o IPO. Essa postura, assim como o iogurte, é uma receita implementada por Hamdi Ulukaya. Ele é conhecido pelo perfil carismático e engajado em propósitos sociais. E pode ser considerado um influencer: tem mais de 45 mil seguidores no Instagram.

Ulukaya tem muitas publicações junto aos funcionários, com textos elogiosos e que estimulam uma cultura de colaboração e motivação na empresa. E se posiciona em defesa dos imigrantes, com postagens que emocionam. Nesta abaixo, ele escreve: "metade dos refugiados no mundo são crianças. Meninas e meninos. Apesar de suas jornadas comoventes, eles ainda sorriem, brincam e sonham. Empresas não conseguem resolver todos os problemas, mas temos que começar de algum lugar". E encerra fazendo um chamado a todas as companhias para se juntarem a uma rede de empresários que trabalha pela inclusão de refugiados.

Ações de dar água na boca

Apesar de tantos ingredientes favoráveis para atrair o interesse dos investidores, Vita Coco e Chobani enfrentam a concorrência de outros players do setor igualmente potenciais.

Este ano, 11 empresas de alimentos e bebidas fizeram IPO nos Estados Unidos. É o maior número desde 1997, segundo a Bloomberg. Apesar do aquecimento das vendas, o setor tem gargalos a superar, principalmente relacionados a mão de obra e inflação, que eleva os preços dos produtos.

Abaixo, alguns nomes de destaque no mercado de ações em alimentos e bebidas, de acordo com a plataforma Seeking Alpha: